Sensações


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Pêndulo

[A noite descobre-se demasiado quente e incapaz de ser galanteada por duas pequenas silhuetas que anseiam o aconchego de um copo de leite bem gelado. O efémero espaço de eleição encontra-se sereno e apenas dedilhado por uma leve brisa que, irregularmente, se pavoneia.]

- Hey! Faz pouco barulho. Ouves?
Passos…

- Shiu!
[Almofada na cabeça]

- Faz pouco barulho, já te disse!
Pa-pa-pa-passos e-e-e mais passos. Tenho medo! Não ouves?!

[De joelhos sobre o chão, agarram-se e ficam à espreita. Está escuro. Os olhos começam a tentar focar. A garganta está entreaberta. Os passos continuam. O volume aumenta. As pequenas continuam com medo.]


- Quem vem lá? Quem é?!


[Agarram-se com mais força para não se desmancharem.]


- ALI! Está alguém a olhar para nós. Tenho a certeza.

- Hum… Por sinal, alguém deveras estranho. Assustadoramente alto e esguio, apenas sedimentado por porções de tecido. Braços exageradamente distantes do corpo contrariamente aos seus pés.

- O que é?

- Não sei.

- Que fazemos? Saímos daqui? Vamos para dentro do cobertor?! Gritamos?! Fugimos?!

- Apetece esconder-me e respirar bem baixinho para que nem isso se ouça.
Vamos para dentro do cobertor. Devagar. Vá!

- Mas não te esqueças de tapar as orelhas. Do teu lado agarra-o bem que eu faço o mesmo do meu e dás-me a tua outra mão. Assim, se alguém nos quiser destapar, já sabemos, gritamos logo.

[Desta forma engendraram o seu plano. Deitaram-se e adormeceram bem aninhadas uma na outra. De manhã acordaram. O cheiro do sol abraçou-as e elas sorriram. E o brilho do sol vestiu-as de alegria e elas sorriram. A noite passada havia sido um pesadelo, quase, mas tinha passado. Estava tudo bem. Ambas contemplaram o belo dia que lhes presentearam. Um beijinho no nariz pela manhã e está tudo certo. Tudo bate certo]

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